Prólogo

01-10-2010 21:14

  

Hoje não venho provocar-vos riso. Cenas agora de mais peso e siso, sérias, graves e tristes, imponentes e nobres quadros, que vos hão de ardentes lágrimas arrancar é o que em verdade viemos aqui trazer. Quem de piedade for capaz, pode dar à nossa peça uma lágrima ou duas, porque ela essa homenagem merece. Quem dinheiro só despende em assunto verdadeiro, nela achará verdade. Quem se alegra com uma ou duas vistas e, de regra, não regateia aplausos, se paciente se revelar e calmo, há de, contente, multiplicar o seu vintém modesto num rápido espetáculo e em tudo honesto. Somente quem deleite acha na vista de cena alegre ou torpe, e que imprevista barulheira agradece, golpes, duelo de algum tipo vestido de amarelo, será decepcionado. Pois, de fato, gentis ouvintes, por um pugilato, fazer entrar um bobo numa peca, não seria faltar, tão-só, a promessa de nosso próprio crédito, no intento de vos representar algo a contento, mas também alienar para o futuro de um amigo sensato o afeto puro. Em nome, pois, do céu, por serdes tido na conta do auditório mais sabido, do mais esclarecido da cidade, mostrai, como o desejo, gravidade: imaginai na forma mais notória as pessoas de nossa nobre história, tal como em vida foram. Na grandeza própria as acompanhai, na mais acesa companhia de tantos seguidores, turba anelante que enche os corredores. Mas vede agora como a cena séria vai bater tristemente na miséria, e vos direi, se rirdes um momento, que é possível chorar num casamento.

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